Veja como visitar a vinícola Ferrari, a qual produz os melhores espumantes da Itália, premiada como a melhor vinícola da Europa em 2015 e produz um dos meu espumantes preferidos.
Ainda pouco conhecido pelos brasileiros, o Ferrari é um dos mais famosos e tradicionais espumantes italianos. A vinícola Ferrari tem mais de 100 anos de história dedicados à produção de vinhos espumantes na região do Trentino, no norte da Itália, usando o mesmo método do Champagne – com a segunda fermentação na garrafa.
Logo que um brasileiro vem a esta parte da Itália pode se confundir com os termos utilizados aqui para denominar este tipo de vinho. Logo no início da visita, a primeira coisa que a guia da vinícola informa é o porquê do Ferrari não ser um prosecco, mas um spumante, um Trento Doc.
Aqui na Itália a denominação de prosecco é utilizada para denominar os vinhos que utilizam o método Charmat ou Martinetti que usam a re-fermentação, e neste, tanto o tempo de produção quanto a complexidade técnica são consideravelmente mais baixos do que no método clássico. A Ferrari usa o mesmo método do Champagne – método classico ou método champenoise – e, por isso, não se utiliza o termo “prosecco” e sim a denominação de origem, ou seja um spumanti Trento Doc. Já no Brasil, utilizamos comumente espumante para todos os vinhos que utilizam os 2 métodos, e isso pode confundir um pouco.
A tradição e busca pela excelência, como nos melhores champanhes franceses, fez com que em 2015 a vinícola recebesse o prêmio de melhor champagne/vinho espumante do ano pelo The Champagne and Sparkling Wine World Championships 2015!! Tanto prestígio assim está atrelado a muita dedicação e paixão. E é na paixão que tem início a história secular da cantina. Giulio Ferrari conhecia muito suas terras e pôde confiar nelas para alcançar o sonho da sua vida: criar entre as montanhas do Trentino um espumante único, original e especial.
Primeiro ele se dedicou à produção de uvas que fossem adequadas ao seu projeto. Depois de obter sucesso nesse quesito, Giulio Ferrari procurou a perfeição na produção de espumante, usando uma prensagem mais delicada para as uvas; selecionando as leveduras mais adequadas e deixando a segunda fermentação ocorrer lentamente nas garrafas.
Nasceu assim, no ano de 1902, o primeiro espumante da cantina Ferrari. Giulio não estava atrás de sucesso; sua meta era alcançar um alto nível de qualidade para seu espumante, mas, com o tempo, os prêmios e o reconhecimento internacional apareceram. Em 1952, Bruno Lunelli, proprietário de uma loja de vinhos, decidiu apostar no produto e assumiu a direção da Ferrari. Profundo conhecedor do setor, direcionou a vinícola para o aumento da produção, sem perder a qualidade. O mercado mostrou que ele estava certo e o Ferrari se tornou um líder entre os espumantes produzidos com método clássico na Itália.
Em 2015 a Ferrari ganhou prêmio de melhor vinícola europeia pela WineEntusiast.
A visita à vinícola Ferrari
A vinícola fica na cidade de Trento (veja o que já escrevemos sobre Trento), e é de fácil acesso, mas é indicado ir de carro.
Entrei em contato com a vinícola e marquei a visita (abaixo informações de como fazer), e no dia marcado, às 10 horas, tivemos nossa visita guiada com o pessoal interno. As visitas são em inglês e italiano.
No início vamos a uma sala com uma projeção de vídeo que conta um pouco da história da empresa e como chegou ao famoso espumante. E depois a visita real começa.
Entramos primeiramente na parte da primeira fermentação, onde ficam os tanques de aço inox. O nosso guia que trabalha na Ferrari há mais de 25 anos, conta um pouco do processo de fermentação.
O método Classico ou método champenoise (que leva o nome da região francesa de Champagne), é um processo de produção que, após uma primeira fermentação em tanques de aço, passa por uma segunda fermentação na garrafa induzida pela adição de açúcares e leveduras (o tirage). Depois da segunda fermentação começa a maturação nas leveduras, e um longo período de envelhecimento em garrafa, que, no caso do Ferrari, vai de um mínimo de 24 meses para a linha de base a até mais de 10 anos para a reserva mais importante, a que leva o nome do fundador, Reserva Giulio Ferrari (meu preferido).
Depois visitamos os locais onde eles ficam estocados e aprendemos um pouco do remuage, que é uma operação pela qual as garrafas de espumantes produzidas segundo o método clássico passam todos os dias. Nas garrafas são efetuadas rotações periódicas e inclinações progressivas (gargalo para baixo), uma ligeira rotação para empurrar os sedimento para baixo progressivamente e se acumulam no gargalo.
Depois vimos onde ocorre o degorgement, ou disgorgement que é o processo pelo qual se eliminam os sedimentos depositados na garrafa, recolhidos no gargalo através do remuage. Para retirar o depósito, congela-se então o gargalo, retira-se a cápsula e a borra é expulsa pelo gás sob pressão. O volume do espumante perdido no processo é substituído pelo liqueur d’expedition, chamado de licor porque feito com uma espécie de “xarope” de açúcar altamente concentrado que é adicionado no método clássico antes de nivelamento final. Sua tarefa é dar o certo grau de suavidade e redondez. A quantidade de açúcar presente no liqueur d’expedition vai determinar se o espumante será brut, sec ou demi sec.
O ano de degorgement é geralmente indicado no rótulo e é uma indicação essencial para o consumidor no momento da compra.
O processo continua com o envelhecimento da garrafa, como dito acima. Depende do tipo do vinho, mas vai de 24 meses a mais de 10 anos.
Depois, no local onde a garrafa é lavada depois de envelhecida e ganha a etiqueta e o selo.
E fica pronta para comercialização. Mas existem vários tipos de espumante Ferrari.
Depois da visita fomos então à degustação dos espumantes, acompanhados com entradas preparadas pelo chef da Locanda Margon, restaurante do grupo Ferrari.
Veja alguns espumantes da casa que degustei durante a visita:
- Ferrari Rosé tem um corte de 60% de uvas Pinot Nero e 40% de Chardonnay, passa pelo menos 3 anos maturando. Começou a ser produzido em 1969. A coloração é rosa brilhante. O aroma apresenta notas florais e frutadas. O sabor é seco e delicado.
- Ferrari Brut: é feito somente com uvas Chardonnay, e produzido desde a fundação, em 1902. O aroma é intenso, com notas de maçã, flores do campo e casca de pão. O sabor é equilibrado e agradável.
- Ferrari Perlé Brut envelhece pelo menos 5 anos e é um espumante com safra, e utiliza como base vinhos produzidos com uvas Chardonnay dos melhores vinhedos da propriedade e provenientes de um mesmo ano. O resultado é um espumante com aroma intenso e refinado com notas de amêndoas, maçã e casca de pão. O sabor é seco e elegante.
- Ferrari Perlé Nero envelhece no mínimo 6 anos nas caves, é feito somente de uvas Pinot Noir vinificadas em branco. O aroma é potente e complexo com notas frutadas, tostadas e minerais.
- Giulio Ferrari Riserva del Fondatore, meu preferido, envelhece por mais de 10 anos e é feito com uvas Chardonnay. Seu aroma é intenso e complexo, marcado pela mineralidade, e por causa do seu longo envelhecimento, há um acabamento de grande complexidade, que impressiona com a elegância e frescura.
E não é tudo! Ainda, quem quiser pode continuar a degustação provando as grappas da Ferrari.
Depois da visita, eu indico conhecer a Villa Margon, cercada de parreiras, onde o próprio Ferrari nasceu. Uma casa esplêndida do século XVI, restaurada pela família Lunelli, atual proprietária da vinícola, como agradecimento ao próprio Ferrari.
A vila conta com afrescos em ambos os lados, internos e externo, sendo reconhecida como a mais encantadora residência da região.
Próximo dali fica o Locanda Margon, que é o restaurante da Ferrari, com uma vista para a cidade de Trento. O restaurante é criativo e inovador, o que combina bem com os espumantes da Ferrari. O chef Alfio Ghezzi, com estrela Michelin, oferece 2 propostas distintas: o gourmet Lounge, para amantes da alta cozinha e o Varanda para aqueles que querem uma refeição mais rápida.
Terminar a degustação com uma almoço num restaurante estrelado com o melhor espumante da Itália não é uma má ideia!
Tin-tin!
Leia ainda os outros textos sobre a nossa viagem pelo Trentino:
- O que fazer em Trento, no Trentino Alto-Adige
- Onde esquiar na Itália: Madonna di Campiglio
- Dicas práticas para esquiar na Itália
- Dica de Hotel nas Dolomitas: Hotel Miramonti
Info vinícola
Cantine Ferrari
via Ponte di Ravina 15, Trento.
Para reservar sua visita, ligue para o número 39 0461/972416 ou reserve pelo site
a visita dura 1:30 e custa 25 euros
Cantina Margon – site
Villa Margon
Telefone para reservar a visita +39 0461 972416 ou margon@tenutelunelli.it
Aberto de quarta-feira e sábado, domingo de Páscoa e segunda-feira de Páscoa, nos dias 26 e 27 de Junho, 12-18 agosto. a partir de 31 outubro – 2 novembro
de novembro a março: 9:00 às 12:30 e 14:30-16:30
de abril a outubro: 9:00 às 12:30 e 14:30-18:00
Ola Deyse,
Viajarei com Minha esposa para celebrate 20 Anos de casamento. ficarei 3 Dias em Veneza e apos Irei para vicenza. Planejei ir de vicenza para Cison di valmarino e me hospedar no castelbrando. Pensei apos retornar para veneza passando por treviso. Gostaria de sua opiniao sobre este roteiro ou alternativas. Esta viagem precisa ser no estado da arte…rs .Obrigadao
Não conheço Vicenza, Cison e Castelbrando, portanto fica difícil opinar. Mas passar em Treviso e Veneza é sempre uma boa ideia, 2 cidades lindas.
Trento é belíssima, há um restaurante muito charmoso no alto da colina, subindo de teleférico, jantar foi esplêndido. Trouxe uma garrafa de Giulio Ferrari Riserva del Fondatore que tomamos em família na passagem de ano 2017-2018, maravilhoso, até hoje sonho com ele. Valeu carregá-lo pelo restante da viagem 😉
Olá! Caso estejamos sem carro, ainda assim é fácil de chegar na Vinícola Ferrari? Gostaria muito de conhecer. Além disso, terei apenas um dia em Trento (com uma noite), o passeio pela vinícola leva mais ou menos quanto tempo? Obrigada!
Fernanda, há varios tipos de passeio. Eu optei pelo de 1:30hs.
É bem fácil ir de Trento, é só usar o GPS ou google maps, funciona bem.
Fernanda,
Eu saí do sul da França e fui até Trento de trem, tranquilíssimo e a paisagem vale a pena.
Em Trento, eu fui de bicicleta à vinícola, pois ela fica na cidade, muito fácil e praticamente plano, nem cansa. E as garrafas, você pode negociar para entregarem no seu hotel 🙂 Aconselho não economizar nesta compra, pois aqui você não encontra com facilidade e os preços (aqui) são exorbitantes.
Já que vai ficar pouco, um lugar imperdível é o restaurante que fica no alto do morro (não sei o nome do morro, mas é um que tem um bondinho que pega na cidade), lá em cima, vc encontrará um vilarejo pitoresco e muito bem cuidado, o único restaurante é pequeno e as mesas ficam na calçada, a comida é fabulosa!!