Negroamaro Di Terra d’Otranto – Do Salto da Bota para o mundo

Negroamaro, também chamado de negro amaro e negramaro, é uma variedade de uva cultivada quase exclusivamente na Puglia, especialmente no Salento. É dela que nasce um vinho muito apreciado da Puglia, o Negroamaro Di Terra d’Otranto.

 

Introdução

A região de Puglia — o “salto da bota” da península itálica — é onde quase que exclusivamente se cultiva a uva Negroamaro, mais especificamente na sub-região de Salento, no sul da Itália. Banhada a Oeste pelo Mar Adriático e ao sul pelo Mar Jônico é uma região quente, seca e árida, propícia para o cultivo dessa uva de sabor marcante e que está presente em vinhos notáveis.

A origem da uva Negroamaro é incerta, havendo evidências de que pode ter aportado na região por volta dos séculos VII ou VIII A.C, trazida por colonos gregos, tendo se adaptado bem ao clima quente e aos solos áridos. Alguns historiadores crêem que os vinhos produzidos com a Negroamaro estavam presentes na Roma Antiga e que foram preservados em mosteiros Beneditinos após a queda do Império Romano. Embora tenha origens tão remotas, essa variedade de videira só foi descrita pela primeira vez no século XIX pelo professor Achille Bruni.

Importante notar que essa espécie de videira não migrou para nenhuma outra região da Itália, sendo cultivada apenas recentemente, em pequenas quantidades, na Califórnia e Austrália.

Aqui vamos tratar especificamente da Negroamaro Di Terra d’Otranto. Terra d’Otranto é uma área atribuída nas províncias de Lecce, Brindisi e Taranto, na sub região denominada Salento, que possui sítios históricos do período medieval e a DOC da Negroamaro.

Uva Negroamaro

A uva negroamaro é utilizada para a produção de vinhos bastante rústicos. Atualmente é trabalhada em conjunto com a malvasia negra, o que resulta na produção de vinhos muito fortes e bem encorpados, considerados ideais para o consumo com carne.

A região sul da Puglia, era quase exclusivamente caracterizada pela uva negroamaro. Esta vinha encontra a sua principal área de cultivo nas províncias de Brindisi e Lecce onde hoje representa cerca de 72% da área de produção. Seu nome é apontado por alguns como a agregação de duas características da fruta: sua cor e sabor. Assim, Negro seria uma referência à cor escura da uva e Amaro à presença de taninos. Negroamaro é rico em corantes e por isso dá vinhos com uma cor rubi intensa e brilhante, muitas vezes impenetrável à luz.

Já outros atribuem a denominação à junção das palavras em latim e em grego para a cor preta (niger + mavros) e remeteriam apenas à coloração da uva. Ambas as versões são plausíveis, tendo em vista a inexistência de documentação confiável. Possui cachos de tamanho médio, de formato cônico, casca grossa e negra com veios violáceos. O Negroamaro tem produtividade altíssima, que deve ser limitada com podas eficazes. A casca da uva Negroamaro é rica em resveratrol, ácidos fenólicos e antocianinas.

Durante muitos anos, a Negroamaro foi utilizada, mesmo na região produtora, tão somente para a composição de blends. Atualmente, contudo, está presente mais e mais em rótulos varietais e cortes, combinada com uvas Malvasia Nera, Susumaniello, Montepulciano, Sangiovese e Primitivo. Na região d’Otranto é usada para a elaboração de vinhos tintos, rosés e de espumantes.

A textura tânica dos vinhos Negroamaro é rica e complexa e os vinhos apresentam, portanto, uma certa adstringência que pode ser acentuada nos produtos envelhecidos em madeira. Os vinhos Negroamaro apresentam uma boa estrutura e um teor alcoólico não desprezível, muitas vezes superior a 14 °.

Terroir

A Puglia tem uma gama formidável de condições naturais para ajudar a incrementar o crescimento produtivo de videiras. Com uma extensão de 400 km pela costa do mar Adriático,  de  região plana,  clima quente do Mediterrâneo, sol persistente e as brisas marinhas ocasionais, criam um ambiente quase perfeito para a viticultura. Um vinho com boa maturação, frutado e de alto teor alcoólico.

O clima muito seco e a predominância de calcário e argila no solo favorecem o desenvolvimento da Negroamaro. A colheita ocorre entre setembro e outubro. A Negroamaro vinificada na pureza é um vinho com uma cor muito intensa , que tende a granada, enquanto a gama olfativa é caracterizada por uma forte presença de flores e frutos silvestres escuros.

Estima-se que a área plantada com a uva em questão seja de aproximadamente 12.000 hectares, sendo que 99% na região de Puglia. Dentro dessa região, a produção concentra-se no chamado Alto Salento, mais especificamente nas localidades de San Pietro Vernotico, Monteroni di Lecce, Cellino San Marco, San Donaci, Guagnano, Salice Salentino e Leverano, sedes de adegas famosas.

DOC Negroamaro di Terra d’Otranto

A  única DOC Negroamaro é a  di Terra d’Otranto que foi estabelecida em 2011 e estende-se pela serra de Puglia até a Península Sorrentina. A área de produção do vinho está localizada na província de Brindisi, Lecce e Taranto. A DOC inclui vinhos rosados, tintos e espumantes.

Para o Vinho tinto Rosso, é preciso ter 90% de uva Negroamaro e 10% de variedades de uvas pretas adequadas ao cultivo de Puglia com envelhecimento de 2 a 3 meses a partir de 1o de janeiro. O teor alcoólico tem volume de 12,5%. O Rosso Riserva tem os mesmos percentuais do Rosso, porém um pouco mais de teor alcoólico de 13% e seu envelhecimento é de, no mínimo,  24 meses após 1° de dezembro.

O Negroamaro Da Terra d’Otranto Rosato, Espumante Rosé (seco e doce) e Espumante Rosé (Extra Brut, Brut e Extra seco) tem todos os mesmos 90% de Negroamaro e os outros 10% de uvas negras de Puglia. A alteração será no teor de álcool, de 12 e 11,5%  e açúcar residual.

Conforme já destacado, as principais uvas que compõem cortes famosos como Negroamaro são as Malvasia Nera, Susumaniello, Montepulciano, Sangiovese e Primitivo. Em tais blends, a Negroamaro é geralmente a variedade dominante, com teores acima de 70%. As práticas de vinificação incluem ainda rendimento máximo de uvas que não devem exceder 70%, é permitida a secagem na vinha. O termo Vigna pode ser mencionado desde que as práticas de vinificação sejam respeitadas e em seus rótulos é obrigatória a indicação do ano de produção das uvas, à exceção dos tipos de espumantes.

É preciso entender que há muitas diferenças entre o norte e o sul da Itália, sua cultura e agricultura diferem, o que acarretou consequências econômicas para a reputação dos vinhos da região. Vários documentos  comprovam a estreita ligação e interação entre os fatores humanos e a qualidade e características do vinho Terra d’Otranto DOC Negroamaro. Ao final do século XX, o mercado mundial de vinhos se expandiu e se sofisticou. Os consumidores passaram a exigir qualidade ao invés de quantidade, principalmente com o acesso que passaram a ter a produtos de qualidade e preços acessíveis do Novo Mundo. Assim, os vinhos produzidos em massa, nos quais a Puglia se especializou,  vinhos baratos e com alto teor alcoólico para misturar ou fazer vermute, perderam seu valor. A qualidade aumentou e hoje a região de Puglia conta com mais de 20 DOCs e 4 DOCGs.

Características

A Negroamaro na composição do Vinho Rosso e Rosso Riserva dá origem a vinhos tintos rústicos, de tonalidade rubi com reflexos granada, notado sobretudo, em seu envelhecimento. São vinhos  complexos com alto teor alcoólico, porém o aroma intenso com presença de frutos silvestres torna-os agradáveis, intensos e saborosos.

Nos rosés e espumantes, a Negroamaro produz vinhos de cor rosada levemente intensa, tendendo ao rosa cereja. Tem  aroma delicado e frutado, bem fresco e em boca é harmonioso e macio. A perlage nos espumantes é fina e efervescente,

Harmonização

Os vinhos tintos produzidos com a Negroamaro costumam ter alto teor de álcool e taninos e acidez significativos, pedindo pratos típicos da região como Massa com grão de bico ou com sugo e almôndegas, cordeiro e gnomerelli (enroladinho de tripa).

Espaguete à bolonhesa e pizza com prosciutto curado, funghi e Grana Padano. Se quiser experimentar uma receita original da Puglia, opte por Sagne Incannulate al Pomodoro e Ricotta Marzotica. Seu molho feito de tomate, queijo de cabra suave e temperos diferentes combina com o Negroamaro de forma soberba. No entanto, existem outras opções.

Bifes grelhados ou assados ficam fantásticos com o Negroamaro, mas devem ser de carnes não muito gordurosas, como filés, contra-filés e cortes de miolo de alcatra.

Se preferir peixe à carne, opte pelo atum grelhado com uma marinada de ervas e limão.

Cordeiro também pode ser ótimo com vinhos que tenham o Negroamaro como a principal uva em sua composição. Um cordeiro assado lentamente com batatas, assim como um ragu da mesma carne com gnocchi.

Para acompanhar os rosados e espumantes antepastos italianos, Peperonata bruschetta, tomates secos e salame.

Agora que a área começou a se ver livre de sua reputação de vinhos de mesclagem baixos e altamente alcoólicos, Puglia tem a oportunidade de seduzir o mundo do vinho com tintos concentrados que rivalizam com os melhores da Austrália e da América do Sul.

Um destino turístico ainda não muito explorado, e, portanto, mais acessível em termos de custo, que se notabiliza por praias tranquilas, mar claro, muitos vinhedos e olivais, assim como por cidades marcantes, como a barroca Lecce e Alberobello e suas casas brancas.

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Sobre Deyse RibeiroDeyse Ribeiro é natural de Minas Gerais, mas vive na Toscana desde 2007. Fez curso de sommelier na FISAR, master em Wine Expert (Academia del Gusto) e Guia Enológica na Itália. É empresária, guia de turismo, especialista em turismo de experiência na Itália, além de editora do Portal Tour na Itália, e deste site.

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