A região de Veneto concentra uma enorme carga histórica para o país. Ela possui mais de 4 milhões de habitantes é fez parte do gigantesco Império Romano, tendo sido invadida pelos bárbaros, quando de sua queda.

Esses dois povos têm uma ligação importante com os vinhos de Veneto. Os romanos foram os responsáveis pela ampliação da produção – que já acontecia desde a época dos povos etruscos -, e os bárbaros, promoveram uma queda brusca do número de vinhas em sua época.

Na cidade de Verona, acontece anualmente a Vinitaly, que juntamente à francesa Vinexpo, são as duas maiores feiras mundiais de vinho.

Portanto, conhecer a história do vinho de Veneto significa conhecer a evolução da região política e culturalmente!

Os Vinhos da Umbria

A viticultura em Veneto

 Os mais respeitados historiadores acreditam que as videiras já existiam em Veneto há muitos séculos antes de cristo, portanto, podemos usar o termo “milenar” para nos referir à histórica tradição vinícola da região.

As vinhas de Veneto começaram a ser protegidas por lei desde ano de 643, ainda no Século VII.

É uma região que já enfrentou diversas situações com o passar dos séculos: guerras, pandemias, disputas políticas e por territórios, etc.

Durante a Idade Média, a viticultura veneziana floresceu de forma exponencial, época em que a atividade comercial da região era conhecida por toda a Europa. Os vinhos chegavam aos outros países pelas rotas comerciais mais importantes.

No ano de 1500, os vinhos de Treviso, Vicenza e Valpolicella (algumas localidades famosas de Veneto) já eram bem difundidos como produtos de excelente qualidade. Entre altos e baixos, a região foi sobrevivendo com sua característica vinicultora no decorrer dos séculos e em 1950 houve um verdadeiro renascimento da enologia em Veneto, movimento que serviu para efetivar de vez seus rótulos entre os melhores da Itália.

A viticultura de Veneto corresponde a 10% de toda a produção italiana e produz rótulos emblemáticos, como, por exemplo, os Amarone della Valpolicella, compostos pelas uvas Corvina Veronese (45 a 95%), Corvinone (máximo de 50%), Rondinella (5 a 30%) e com uma fração máxima de 15% de outras uvas da região em sua composição.

Junto aos Amarone, podemos incluir os “Recioto” como os dois maiores expoentes da região. Mas isso não significa que as outras áreas de Veneto não mereçam nossa atenção. Pelo contrário, é uma região repleta de experiências inesquecíveis para os enoturistas, que podem apreciar rótulos surpreendentes em todas as sub-regiões de Veneto.

Para os enófilos que apreciam a bebida desde a década de 1980, provavelmente tiveram como um de seus primeiros contatos com vinhos italianos, um vinho de Veneto, o “Bolla Valpolicella”, que foi um dos poucos que conseguiram vencer a burocracia da importação daquela época e vir para o Brasil em grandes quantidades. Além disso, é um vinho de fácil degustação e engarrafado pronto para o consumo.

Os Vinhos do Veneto

O processo de “Appassimento”

Uma característica marcante de alguns rótulos de Veneto, é o processo de appassimento (ou passificação) que acontece na elaboração dos vinhos.

Nesse estilo de produção, as uvas passam por uma desidratação antes da prensagem. Elas ficam descansando em camas de bambu em um período que pode ser de 30 a 100 dias, o que faz com que elas percam umidade. Em alguns casos, essa taxa de perda chega a 40%.

Essa técnica remonta ao tempo dos romanos, que a utilizavam com o objetivo de concentrar mais dulçor ás uvas.

Já na região de Veneto, a história conta que a técnica começou a ser utilizada no começo do século XX, quando um produtor do vinho Recioto della Valpolicella esqueceu um barril dentro de sua adega e se surpreendeu com o resultado do produto após ela ter sido localizada meses depois. Uma bebida mais encorpada e fortificada.

Esse processo dá características bem marcantes ao vinho. Um produto com um tom vermelho escuro, meio grená, com menos translucidez. Paladar intenso, veludado e com uma acidez bem pronunciada. Notas de frutas negras e secas, madeira, especiarias e chocolate.

Uma curiosidade: durante o appassimento, cria-se um ambiente totalmente favorável ao desenvolvimento do fungo “botrytis”, famoso por sua importância na produção dos adocicados Sauternes e Tokajis; mas para as características buscadas pelos produtores de Veneto, ele não é bem-vindo, o que exige um correto equilíbrio entre umidade e ventilação natural das áreas de produção para que o fungo não vingue.

 As uvas da região de Veneto

São 42 as uvas encontradas na região de Veneto, sendo 42 tintas e 16 brancas.

Na direção leste a oeste, primeiramente temos as Colinas de Garda Veronese e Valpolicella, áreas fortes no cultivo das Corvina, Rondinella e Molilnara; essas que dão vida aos vinhos Bardolino e Valpolicella.

Entre as províncias de Verona  e  Mântua, encontramos a Trebbiano di Soave, da qual se origina um excelente vinho, chamado Lugana, um vinho branco elaborado que também é conhecido como Turbiana ou Trebbiano di Lugana pelos locais.

Os Vinhos do Veneto

 

Entre as  montanhas Lessini e Berici, encontramos a casta Garganega. Os Berici Hills também são especialmente reconhecidos por seus tintos, com Cabernet  Sauvignon ,  Merlot  e Tocai Rosso.

Em Vicentino, produz-se a videira indígena  Vespaiola,  com a qual é produzido o vinho Torcolato di Breganze passito. Em Paduan, cultivam-se as vinhas vermelhas mais tradicionais. Na área plana ao sul da capital se cultiva a videira Friularo. Na área de Treviso está a grande concentração da produção do vinho Prosecco, com grandes campos da uva Glera.

 As Denominação de Origem na região de Veneto

Quanto às denominações oficiais da região, são nada menos que 41, conforme abaixo.

DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantia):

  • Amarone della Valpolicella DOCG
  • Bagnoli Friularo ou Friularo di Bagnoli DOCG
  • Bardolino Superiore DOCG
  • Colli Asolani Prosecco ou Asolo Prosecco DOCG
  • Colli di Conegliano DOCG
  • Colli Euganei Fior d’Arancio DOCG
  • Conegliano Valdobbiadene Prosecco DOCG
  • Lison DOCG
  • Montello Rosso ou Rosso del Montello DOCG
  • Piave Malanotte ou Malanotte del Piave DOCG
  • Recioto della Valpolicella DOCG
  • Recioto di Gambellara DOCG
  • Recioto di Soave DOCG
  • Soave Superiore DOCG

DOC (Denominação de Origem Controlada)

  • Arcole DOC
  • Bagnoli di Sopra ou Bagnoli DOC
  • Bardolino DOC
  • Bianco di Custoza ou Custoza DOC
  • Breganze DOC
  • Berici Hills DOC
  • Euganean Hills DOC
  • Corti Benedettine del Padovano DOC
  • delle Venezie DOC
  • Gambellara DOC
  • Garda DOC
  • Lessini Durello DOC
  • Lison Pramaggiore DOC
  • Merlara DOC
  • Montello e Colli Asolani DOC
  • Monti Lessini DOC
  • Piave DOC
  • Prosecco DOC
  • Riviera del Brenta DOC
  • Soave DOC
  • Valdadige DOC
  • Valdadige Terra dei Forti DOC
  • Valpolicella DOC
  • Valpolicella Ripasso DOC
  • Venezia DOC
  • Vicenza DOC
  • Vinhas da Serenissima ou Serenissima DOC

Dentre todas elas, destacamos as seguintes:

– Amarone della Valpolicella DOCG

O Amarone della Valpolicella é produzido com um rigoroso processo de apassimento que dura de 3 a 4 meses. Durante esse período, as uvas perdem 50% de seu peso e nelas surgem fungos que garantem toda a complexidade do paladar desses vinhos.

O processo faz com que aumente consideravelmente as concentrações de açúcar, polifenóis e glicerina, combinação perfeita para criar bebidas macias e aveludadas ao paladar.

Os Amarones della Valpolicella são fermentados no frio de fevereiro e seguem para serem maturados em barricas de carvalho francês.

Cor: vermelho profundo, evoluindo para granada com o passar do tempo de guarda.

Aromas: frutas secas, tabaco e especiarias.

Paladar: Encorpado, intenso, seco, porém macio. Notas de frutas secas (devido ao processo de apassimento).

Potencial de guarda: 20 anos ou mais.

– Recioto della Valpolicella DOCG

O Recioto della Valpolicella também passa pelo mesmo processo de apassimento, característico da região, pelo tempo de 3 a 4 meses.

Ao final desse período, as frutas passam por um processo de prensagem e fermentação, que deve ser interrompida no momento certo para que ainda se mantenha um certo nível de açúcar natural no vinho resultante da produção. Uma bebida doce que pode se tornar bem complexa caso o consumidor opte pela guarda.

Cor: Vermelho profundo.

Aromas: Chocolate e frutas secas.

Paladar: Chocolate amargo, frutas secas, especiarias e frutas cítricas (laranja pomelo).

Potencial de guarda: Indefinido, podendo chegar a décadas.

O Recioto possui a mesma variedade de uvas tintas presentes nos Amarones, que inclusive têm seu processo de produção inspirado no dos Recioto. Na composição de ambos, há as seguintes uvas: Corvina Veronese, Corvinone e Rondinella, essencialmente. As denominações permitem que até 15% do blend seja composto pelas demais uvas da região.

-Prosecco DOC

A área de produção da denominação Prosecco abrange as regiões de Veneto e de Friuli Venezia.

Por ser um nome com enorme fama mundial, é a região com maior número de produtores com escala industrial, com colheitas automatizadas, necessárias para suprir a grande demanda de exportação.

Mas há também inúmeros produtores que fazem preciosos exemplares desse espumante de forma mais artesanal, assim como essas grandes empresas costumam ter tiragens especiais com essas características.

São vinhos espumantes, frescos e equilibrados, elaborados com as uvas glera, Bianchetta, Perera, Verdiso, Glera lunga, Chardonnay, Pinot bianco, Pinot grigio e Pinot nero.

Os Vinhos do Veneto

– Soave DOC e Soave Superiore DOCG

Soave, além de dar nome a uma denominação, também é o nome de uma cidade da região de Vêneto. Essa denominação é dedicada aos vinhos brancos, que inicialmente eram feitos exclusivamente com a uva Garganega.

Classificam bebidas com forte personalidade. Devemos ressaltar que o termo “soave” não tem ligação alguma com os vinhos “suaves” de mesa bastante encontrados no Brasil.

Vinhos com a denominação de origem SOAVE da Itália são excelentes vinhos brancos secos.

“Um bom Soave é como ter um Vivaldi no seu copo!”

Por essa citação comum na região, percebe-se que são bebidas totalmente marcantes, envolventes e apaixonantes. Ela compara o vinho Soave às obras musicais encantadoras do compositor nascido em Veneza.

Os vinhos Soave se distribuem em 3 categorias: Soave, Soave Clássico e Soave Colli Scaligeri.

UGA – Unità Geografiche Aggiuntive (Soave)

Ainda dentro dessa extensa denominação, o consórcio responsável por todas elas, e que delimita vinhedos específicos dentro das regiões, criou uma classificação complementar, chamada de UGA, como uma subclassificação dos rótulos de Soave.

Ela entrou em vigor em 2019 e agrega ainda mais valor aos vinhos e qualidade superior da região, aqueles que podem ser considerados excepcionais. São 33 UGAs diferentes e listaremos todas para que você conheça:

  1. Brognoligo
  2. Broia
  3. Ca’ del Vento
  4. Campagnola
  5. Carbonare
  6. Casarsa
  7. Castelcerino
  8. Castellaro
  9. Colombara
  10. Corte Durlo
  11. Costalta
  12. Costalunga
  13. Coste
  14. Costeggiola
  15. Croce
  16. Duello
  17. Fittà
  18. Foscarino
  19. Froscà
  20. Menini
  21. Monte di Colognola
  22. Monte Grande
  23. Paradiso
  24. Pigno
  25. Ponsara
  26. Pressoni
  27. Roncà – Monte Calvarina
  28. Rugate
  29. Sengialta
  30. Tenda
  31. Tremenalto
  32. Volpare
  33. Zoppega

– Valpolicella DOC

Localizada nos arredores de Verona, Valpolicella é uma das mais mundialmente famosas regiões produtoras de vinho da Itália, sem dúvidas. Amantes de vinho de todo o planeta visitam a região com um olhar apaixonado e com muito interesse em conhecimento e, é claro, degustações prazerosas e repletas de rótulos fabulosos.

Os Vinhos do Veneto

Os Valpolicella são vinhos leves e representam um verdadeiro convite à gastronomia italiana, devido ao seu potencial versátil de harmonização.

Em sua elaboração, são utilizadas principalmente, as uvas Rondinella, Corvina e Corvinone. Esse blend resulta em um produto com moderado teor alcoolico e fácil de beber. Agrada a diferentes níveis de paladares, dos iniciantes aos mais treinados.

Existem subdivisões:

Valpolicella, Valpolicella DOC, Valpolicella Classico, Valpolicella Superiore e Valpolicella Ripasso.

As áreas cultivadas

Sobre sua geografia e seu clima, podemos dizer que é uma região onde há predominância de colinas e do clima temperado, na maioria do ano, principalmente no interior. Nas áreas mais próximas ao litoral, o clima tem muita influência mediterrânea.

Os Vinhos do Veneto

Área dos vinhedos: 6.237 hectares, divididos da seguinte forma: 54% colinas, 22% pé de colinas e o restante, 24% em fundos de vales.

Fronteiras e limites: Ao norte, com a Áustria; à nordeste, com o Friuli-Venezia Giulia; à noroeste, com o Trentino Alto-Ádige; à oeste, com a Lombardia e ao sul com a Emilia- Romagna.

Produção anual total: 76.000 toneladas de uvas.

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Sobre Deyse RibeiroDeyse Ribeiro é natural de Minas Gerais, mas vive na Toscana desde 2007. Fez curso de sommelier na FISAR, master em Wine Expert (Academia del Gusto) e Guia Enológica na Itália. É empresária, guia de turismo, especialista em turismo de experiência na Itália, além de editora do Portal Tour na Itália, e deste site.

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